Pular para o conteúdo principal

SdV Reviews: Festival de Verão 1º dia



Salvador, Bahia, 2018. Em tempos de governo de ultradireita, e ao mesmo tempo neoliberal, em meio a um verão extremamente quente e chuvoso, a capital da Bahia - quase um reduto socialista dentro do Brasil - recebeu o melhor line up de festival dos últimos tempos na minha opinião.

Festival começou cedo e não deu pra pegar o show de Rael. Pegamos o começo do show de Anitta. Ela mandou seus hits, sempre na postura, em boa forma, deixando os fãs satisfeitos. Em alguns momentos o funk tomava conta e o batidão botava todo mundo pra mexer. A produção perfeita. O som batendo em todas as frequências. O dia prometia.

Depois dela veio Natiruts. Introduziram o show com um vassi e logo depois caíram no reggae. Com muita humildade o vocalista pediu pra todo mundo levantar as mãos em prol das pessoas que não podiam estar ali. Toda a fonte nova fez aquela “genki dama” e começaram jogar fumaça pro ar. Show impecável.

Em seguida veio Nação Zumbi. Primeira vez no Festival de Verão chegaram também no vassi, mas  tombaram pro maracatu. Um show curto, mas muito enérgico. Destaque pra versão de “Sexual Healing” na voz de Jorge du Peixe com a percussão redondíssima de Toca Ogan. Show memorável.

Alpha Blondy foi visceral. Começou o show com “Jerusalém”, uma oração que prenunciava o que viria, uma aula de humanismo. Antes de entrar no palco as backing vocals davam o tom. Entrou de turbante. Quase messiânico. Entre uma música e outra, mensagens de tolerância religiosa (antes de tocar a música “Crime Spirituel” conhecida como “Maomé”) e de paz (antes de tocar “Peace in Liberia”). Trocou de roupa para um colete verde cana, com calça verde e camisa vermelha, criando uma aura psicodélica frente ao cenário. Os meninos do Olodum subiram ao palco e tocaram “Bahia” junto com Alpha Blondy, e nesse momento, incrivelmente começou a chover. Também foi marcante quando começou a tocar a versão de “I wish You Were Here” do Pink Floyd e terminou com “Brigadier Sabari” pra meu delírio que nesse momento parecia uma criança dançando e cantando.

A noite seria difícil pro Inner Circle, mas nada que jamaicanos originais de Kingston não consigam. A banda, que contava com três membros da formação original, completava ali 50 anos de história e transformou a
Fonte Nova numa verdadeira Soundsystem. Boa parte do público estava ali só esperando o Planet Hemp e quando o vocalista pedia a interação da galera só uma “muquequinha” se animava. Pra piorar começou a chover e todo mundo debandou. A banda procurava um denominador comum com o público, chamando clássicos jamaicanos, mas que só uma pequena parte da galera compreendia. Foi então que chamaram o riddin de “Tenement Yard” de Jacob Miller, conhecida na Bahia como “Beba Qwik, mas não beba Nescau”. Nessa hora todo mundo ficou maluco e foi dançar debaixo da chuva. Depois muito dancehall e reggae roots. Uma pegada mais gangster que Alpha Blondy era o que a galera precisava.

Por fim, o Planet. A Fonte já estava esvaziada, só tava ali quem queria mesmo. Já eram quase 3h da manhã quando subiram no palco e puxaram
aquele set do álbum “ao vivo”. Na formação a novidade era o guitarrista e o tecladista. No set a novidade foi um cover do Ratos de Porão. O público tava cansado e B-Negão que instigou a roda de bate-cabeça da galera “olha, tem uma roda formando aqui e outra ali, junta as duas e forma uma só”. Eles pediam pra girar, mas a galera da Bahia não é muito do circle pit. Dava pra ver que eles tavam se divertindo tocando e que não era aquela banda que voltou a fazer turnê só pelo dinheiro.

Olhando a Fonte Nova eu me lembrei dos antigos festivais de verão no Parque de Exposições, aonde o ingresso era mais barato e era mais democrático, havia mais brigas e príncipe maluco na porta. Também tinha mais cambistas. Virou uma festa menos inclusiva, num salão de festas de “luxo”, com ingressos mais caros. Quem pôde pagar o ingresso da pista dava pra ficar assistindo o show inteiro sentado na arquibancada e até ganjando. Houve algumas cenas de violência policial, mas foi até sossegado pros nossos padrões.

Espero que em 2019 o line up venha com boas atrações assim como em 2018.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SdV Entrevista: Léo Kobbaz (ex- Street Bulldogs)

Primeira entrevista da Saco de Vacilo, escolhemos uma pessoa que fez parte de uma banda muito importante para o cena hardcore nacional, Léo Kobbaz Darrigo, ex vocal da banda paulista Street Bulldogs. O motivo de escolher um cara de não ter banda atualmente vocês vão ver no decorrer da entrevista. Irão ver que por mais que algumas pessoas não mais tenham bandas ou, aparentemente, não tenham ligação com o hardcore, o estilo de vida é inerente e a postura continua a mesma. Muito bom também ver que Léo não faz aquele tipo que depois de parar de tocar faz questão de desfazer do hardcore, muito ao contrário. Vamos a entrevista! SDV: Então Léo, me conta, você ainda reside em SP? O que está fazendo atualmente? Tem tocado? Léo: Não. Eu não moro no Brasil há 7 anos. Fiquei 04 anos em Nova Iorque (EUA) e agora vão fazer 03 anos que estou na Irlanda. Não toco mais, depois que sai do Brasil nunca mais toquei. SDV: Massa...e o que tem feito atualmente? Trampo...essas coisas? Léo: Sou tat

Melhores 2018 pela Saco de Vacilo

Nunca fomos de fazer essas listas de melhores do ano, sei lá não fazia parte do nosso perfil. Porém, ao analisar algumas listas que já saíram esse ano percebemos a quantidade de bostas que os críticos de músicas vem indicando. Com toda certeza, como diz um amigo nosso, Guilherme “Chapado” (Sweet Suburbia), nosso gosto musical é melhor que o de vocês.  Então é isso, como de praxe quando não nos sentimos representados por algo vamos lá e fazemos. Seguem a lista dos 05 melhores lançamentos de 2018 e em seguida os 05 melhores shows de cada um da Saco de Vacilo.  Compareçam aos shows e busquem as músicas ai pra ver se comungam com nossos gostos.  Lançamentos 2018: Rodrigo Avast Antiporcos - "Contra o genocídio do povo negro" (EP) Gravado em casa à vontade entre amigos, de forma despojada, certeira e autêntica. De verdade. Punk  raivoso de bom gosto e levado a sério como há muito não se vê por aqui por essas bandas. O lançamento mais nervoso e enérgico da banda… logo,

SdV Entrevista: Motim 13 (Pojuca - BA)

1. Contem um pouco de como surgiu a Motim 13 e como ela chegou na atual formação. A Motim 13 surgiu em 2010 da ideia de 4 moleques em Pojuca, uma cidade a 78 km de Salvador. Aquela velha história: Ninguém sabia tocar nada nem tinha instrumento, em meio a isto entrou mais um guitarrista porque tinha um instrumento e outro vocalista por “broderagem” mesmo. Essa formação durou 7 meses e a banda acabou. Alguns meses depois a banda voltou com outra formação. Em 2013 a banda se consolidou com 6 componentes e assim ficou por 2 anos até a saída de um dos vocalistas. Em 2015 gravamos um EP e pouco tempo depois do lançamento o baterista saiu. Resumindo, a Motim 13 agora é Léo Gorinho no vocal, Anibal guitarra, Klever baixo e Adriano na bateria. 2. Vocês são de Pojuca, interior da Bahia, e desde o surgimento de vocês conseguiram por Pojuca no mapa do rolé hardcore. Porém, talvez seja até uma má impressão, não se ver uma formação de uma cena sólida, em termos de bandas, na cidade. A que se