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SdV Entrevista: Léo Kobbaz (ex- Street Bulldogs)


Primeira entrevista da Saco de Vacilo, escolhemos uma pessoa que fez parte de uma banda muito importante para o cena hardcore nacional, Léo Kobbaz Darrigo, ex vocal da banda paulista Street Bulldogs.
O motivo de escolher um cara de não ter banda atualmente vocês vão ver no decorrer da entrevista. Irão ver que por mais que algumas pessoas não mais tenham bandas ou, aparentemente, não tenham ligação com o hardcore, o estilo de vida é inerente e a postura continua a mesma.
Muito bom também ver que Léo não faz aquele tipo que depois de parar de tocar faz questão de desfazer do hardcore, muito ao contrário.
Vamos a entrevista!

SDV: Então Léo, me conta, você ainda reside em SP? O que está fazendo atualmente? Tem tocado?
Léo: Não. Eu não moro no Brasil há 7 anos. Fiquei 04 anos em Nova Iorque (EUA) e agora vão fazer 03 anos que estou na Irlanda. Não toco mais, depois que sai do Brasil nunca mais toquei.

SDV: Massa...e o que tem feito atualmente? Trampo...essas coisas?
Léo: Sou tatuador e professor de Jiu Jitsu nas horas vagas, mas já fazia isso enquanto tocava também.

SDV: Eu soube, certa feita, que você estava em Nova Iorque dando aulas específicas para defesa pessoal feminina e para pessoas que sofreram situações relacionadas a bullying. Como foi isso?
Léo: Quando eu mudei para Nova Iorque, para eu permanecer por mais tempo lá eu tinha que arrumar um visto de atleta. Sendo assim desenvolvi um projeto para dar aula de defesa pessoal para mulheres e contra bullying, algo que era interessante para comunidade.
Desenvolvi essa ideia, coloquei no papel e enviei para imigração para conseguir esse visto de atleta. Consegui o visto e morei lá por 04 anos com esse visto, e tatuando que era meu trabalho.
Calhou que esse projeto me deu destaque, dos mais professores que davam aula, pois até então eu era apenas mais um professor de Jui Jitsu, dentre muitos e acabou que ajudou, pois nos EUA eles tem muitos problemas com bullying e violência doméstica. No final isso ajudou a comunidade e me ajudou também.

SDV: Isso! Achei bem interessante por isso. Já tinha visto em academia aulas específicas para mulheres, mas nunca tinha visto algo voltado para pessoas que sofreram ou sofrem bullying, achei bem interessante mesmo, até por isso que você disse, dos EUA ter esses índices elevados de situações envolvendo o bullying e violência doméstica.
Mas vamos falar um pouco de música.
Como tudo começou em sua vida? Apenas sei de sua trajetória no Street Bulldogs e no Another Side. Tiveram outras bandas? Como foi isso?
Léo: Um pouco antes do Street Bulldogs eu tinha uma banda que chamava Submundo, mas ai só mudamos o nome. Eu morava em Pindamonhangaba (interior de São Paulo) e andava de skate, meus amigos ouviam Punk HC, OI!, etc., e eu peguei gosto e queria aprender a fazer a música e não só ouvir. Hoje em dia só quero ouvir(risos).

SDV: E o Another Side, onde entrou nisso tudo? Você tocava baixo, não era?
Léo: O Another Side foi um projeto SxE (Straight Edge) que a gente tinha paralelo ao Street Bulldogs, mas como éramos SXE na época demos um foco especial ao Another Side, mas não foi muito longe porque começamos a dar foco ao Street. Sim, eu era baixista.

SDV: Legal! Inclusive o CD que tenho do Another Side é excelente.
Falando no Street, quais álbuns você considera os melhores ou o melhor? E quais faixas?
Léo: Cara todo álbum do Street tem músicas que eu gosto mais e menos. Mas sei lá, acho que um marcante foi o Question your truth e gosto do Tornado Reaction também, mas todos têm algumas músicas que gostava de tocar, não sei te dizer uma faixa, mas é mais fácil falar as que eu não gostava de tocar, por exemplo todas as em português. Não gostava, não sei, só não gostava.

SDV: Talvez porque não combinavam tanto. Eu também prefiro as faixas em inglês.
Léo: Exato!

SDV: Eu conheci o Street Bulldogs através da propaganda da MTV Brasil - https://www.youtube.com/watch?v=FdPANKh0p28 - (risos). Achava foda a música e fui procurar saber de onde era. Como rolou na época de entrarem nessa propaganda? Acho que era uma campanha de combate a AIDS.
Léo: Cara acho que o Drausio, que tocava baixo na época, que colocou a música na propaganda, ou sugeriu, não me lembro bem. Só sei q depois disso muita coisa mudou, despertou uma curiosidade e muita gente veio procurar e tal.

SDV: Verdade.
Vocês saíram em um dos melhores split’s já lançados no Brasil, o Faces do Terceiro Mundo. Como foi participar desse álbum e gravar covers das outras 3 bandas?
Léo: Eu nunca gostei muito de coletânea, então pra mim não teve nada em emocionante em participar de coletânea e tocar cover de outras bandas e tal. Foi mais legal pros fans do que pra mim, não que eu não goste, eu gosto, mas nada demais.
Eu não puxo saco de ninguém, não passo pano pra ninguém, gravei porque todo mundo queria gravar, igual aquele split com o Dominatrix, eu não queria gravar, não tinha nada a ver, mas os outros quatro quiseram e acabou rolando, mas por mim não rolaria, gosto e respeito o Dominatrix, mas não tem o porque de gravar uma música delas. Essa quantidade de prezinha que a gente se envolvia me cansava um pouco, quem gostava da gente era porque gostava da música, e pronto.

SDV: Ia perguntar justamente sobre esse outro Split. (risos)
Léo: Tá respondido (risos)

SDV: Você lembra das passagens do Street aqui por Salvador?
Léo: Sim, tocamos ai acho que duas vezes, faz tempo, não lembro de muito mas foi legal, muito calor também (risos).

SDV: Demais!!!
Foram duas mesmo, uma com o Noção de Nada e o Dead Fish e a segunda na Vans Zona Punk Tour.
E o DVD?
Léo: O que tem o DVD? Quer saber como foi a ideia?

SDV: Isso! Tudo dele, pois achei bem foda a ideia de se reunirem pra fazer virar.
Léo: O DVD é porque a gente nunca teve nenhum registro em vídeo, ai os caras sugeriram um DVD e eu topei. Porque depois de tudo o que a gente fez valia a pena fazer um DVD, ai os caras organizaram e eu fui, com a ideia de missão cumprida, pra mim bastou ali, fizemos o que tínhamos que fazer.

SDV: Encerraram em grande estilo.
Léo: Obrigado!

SDV: E a fama de treteiros? Procede? Uma banda tão fofinha rapaz (risos).
Léo: A gente nunca foi treteiro. A gente só não levava desaforo pra casa, e de fofinho ali não tinha nada não (risos) Se eu fosse fofinho você não ia ficar cheio de dedos de vir falar comigo (risos).

SDV: (risos) Uma grande verdade!
Léo: Na real, eu e o Guilherme que éramos mais disposição ali, então qualquer coisa a gente caia pra dentro.

SDV: Na real sempre vi o Street como uma banda que fazia a união de um som melódico com a sujeira das ruas.
Léo: Certeza. Isso que eu te falo, a gente era real, não tinha essa de agradar ninguém pra conseguir nada, eu queria mais e que se foda! O que faz uma banda agradar é o som e a atitude, então tá ai!

SDV: Com certeza... Léo, você além do Brasil morou em NY e agora reside na Irlanda. Quais as principais diferenças, positivas e negativas desses países?
Léo: Cara NY é demais! Tem show pra caralho, tudo que você quer tem. É foda! Mas ao mesmo tempo te suga, parece que te deixa de castigo por um tempo. Você tem que se sujeitar a muita coisa pra morar lá, então depois de um tempo a mentalidade do americano e o que você tem que passar pra morar lá me cansou. Já em Dublin (Irlanda) é mais relax. Você tem uma melhor qualidade de vida e você vive mais em paz, sem muita pressão. Tô mais velho  e então aqui tá melhor pra mim, sem contar que a cena de Oi! e Punk aqui é bem legal, então tô curtindo, vamos ver no futuro qual é.

SDV: Que massa!... E o que tem achado da atual situação política do Brasil? Tem chegado as notícias ai?
Léo: Sim mano, lamentável, e muito triste ver como o Brasil tá andando pra traz, como o povo tá emburrecendo. Esses discípulos cegos ignorantes seguidores daquele insano lunático do Bolsonaro, não dá pra entender. Como Tim Maia dizia, “Brasil é um país onde o traficante é viciado, cafetão ciumento e pobre é de direita”, acho que é alguma coisa assim (risos). Infelizmente é sem esperança.

SDV: Foda.! Você falou sobre a Cena Punk e OI! aí de Dublin. O que você tem ouvido ultimamente de som?
Léo: Sempre ouço as mesmas coisas de sempre, HC, Oi!, ska, reggae, country , sempre as mesmas coisas, música boa (risos).

SDV: Se tá bom não tem porque mudar.
Léo: Não tenho fases manja? (risos) Gosto do que sempre gostei, só me visto um pouco melhor hoje em dia (risos).

SDV: Elegante.
Léo: (Risos) O frio ajuda.

SDV: Com certeza. (risos)... Você ainda tem contato com o resto do Street?
Léo: Sim, temos um grupo nosso no whatsapp, mas só falamos merda (risos). As vezes os caras brincam em mencionar um show de reunião e tal, mas sabem que daqui não sai nada (risos) Já era, acabou!

SDV: (Risos) Sonrisal vai roubar sua mente ainda, ceh vai ver (risos).
Léo: Não vai. Ele sabe que não vai, quanto mais pedirem mais eu vou negar, só pra dar o contra.

SDV: (Risos) escroto!!!
Léo: (Risos)

SDV: Mas mano, você está correto. Antes acabar dignamente que perdurar fazendo merda. A trajetória de vocês é digna.
Léo: Minha palavra não faz curva, quem viu viu, quem não viu e porque não quis, porque tocamos 14 anos seguidos, agora já foi. Eu nunca fui no show do Minor Threat e não fico enchendo o saco dos caras pra voltarem manja? Quem não existia naquela época tem ai no DVD pra matar a curiosidade, e foi.

SDV: Boa!!!
Léo: (Risos)

SDV: Léo, Muito obrigado pela entrevista, mesmo! E foi mais tranquilo do que eu imaginava. (risos). Deixa um recado final pra galera e forte abraço.
Léo: (Risos) Por que mais tranquilo? Você achou que eu ia te xingar? (Risos) Não tem nada disso, não tem muito a falar pra galera não, hoje em dia eu nem sei quem é essa galera e do que eles gostam, então a única coisa que eu digo é que cada um viva a sua vida e faça o que quiser, desde que não encham o saco de ninguém (risos).

SDV: Não, eu achei que poderia ser mais rude, ou sei lá o que. O jeitão a primeira vista causa receio. Não achei nem que toparia a entrevista, foi muito legal!!
Léo: (Risos) Mano você soube chegar, então tá tudo certo, obrigado pelo respeito, também gostei das perguntas, grande abraço, tudo de bom ai nos seus projetos.

Street Bulldogs:
https://streetbulldogs.bandcamp.com
Another Side:
https://www.youtube.com/watch?v=wfKlz6xcaxE 

Comentários

  1. Curti a entrevista, hardcore é uma maneira de pensar e interagir! sucesso a todos que cultivam boas energias desses frutos do punk rock, SKATE! sucesso!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Parabéns aí pela entrevista... não cheguei a conhecer o leo pessoalmente, mas por tudo que eu já li e assisti
    o cara nunca mudou seu jeito de ser...direto e reto..e foda-se, isso é raro pois infelizmente a nossa sociedade é superficial e burra! parabéns Léo, a banda Street Bulldogs fez parte da minha vida...otimas músicas... Melhor época que o Hard Core
    brasileiro teve, foi a época em que essa banda tocava com o coração e com a alma ...som de verdade!

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